RIO - O Rio anda sendo visitado por figuras estranhas. Em março, foi uma arara-azul. Em abril, Vin Diesel. Neste fim de semana, serão uns carrões que mudam de forma e falam; no final de junho, um bando de pinguins; e, antes do fim do ano, a cidade ainda vai receber vampiros, lobisomens e até mesmo um enfezado gato de botas. O que atrai essa turma não são simplesmente as paisagens, a alegria ou o clima cariocas. O que vem trazendo alguns dos principais produtores, diretores e atores de Hollywood ao Rio é a nova conjuntura do mercado internacional de cinema - quase 70% da renda de bilheteria dos filmes estão vindo de fora dos EUA - e também a nova situação do Brasil nesse mercado, com um crescimento recorde, de 30% no faturamento em 2010. Tudo isso, somado ao recente aumento de popularidade do Rio no exterior e à valorização do real, mostrou aos executivos do cinema americano que a capital fluminense pode ser o palco perfeito para o lançamento de um blockbuster.
No jargão do setor, um lançamento de cinema para a imprensa é chamado junket. A ação envolve reunir estrelas num único lugar para a primeira exibição do filme, espalhar campanhas de marketing pela cidade escolhida e convidar jornalistas de várias origens para entrevistar a turma. Na animação "Rio" (Fox), a das araras-azuis e primeiro lançamento internacional realizado neste ano na cidade, 350 convidados estrangeiros, de 17 países, ficaram hospedados em sete hotéis cariocas. Já para "Velozes & furiosos 5", estrelado pelo fortão Vin Diesel, os estúdios Universal trouxeram para o Rio simplesmente 70 de seus profissionais em abril, inclusive seu presidente. Além disso, vieram para cá 92 equipes de jornalistas estrangeiros de EUA, Ásia, Europa e América Latina.
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- O Brasil é a bola da vez, e o Rio é a cereja do bolo - diz Patricia Kamitsuji Ito, diretora geral da Fox Film do Brasil. - Hoje, o país tem números importantes para justificar um grande investimento em filmes nacionais e em eventos do porte da avant-première mundial de "Rio". Para este filme especificamente, o Brasil apresentou a maior bilheteria no mercado internacional até o momento, de US$ 42,5 milhões.
É exatamente em busca desses dólares que as junkets passaram a ser trazidas para cá, dividindo um espaço de lançamento na América Latina que, até recentemente, era exclusivo do México. Por isso, o diretor e produtor Michael Bay e os atores Josh Duhamel e Rosie Huntington-Whiteley chegam domingo à cidade, para a primeira exibição mundial para a imprensa de "Transformers: o lado escuro da lua", da Paramount. O desejo de vir ao Rio teria sido do próprio Bay, atento à nova realidade do mercado: enquanto os EUA tiveram uma queda no número de espectadores de 5% em 2010, o Brasil teve um aumento de 20%.
- Até agora, a bilheteria estrangeira representa 68% do faturamento total dos estúdios americanos no ano. No caso brasileiro, a bilheteria em dólar ainda chama mais a atenção, porque o câmbio está bom para o real - explica Jorge Peregrino, vice-presidente sênior de distribuição para América Latina da Paramount. - A norma era fazer os lançamentos no México, mas o mercado brasileiro hoje supera o mexicano em alguns filmes. E isso não acontece apenas com o Brasil, mas com todos os principais países emergentes. Daqui, Michael Bay vai para Moscou lançar o "Transformers". E o mercado espera que em cinco ou seis anos a China ultrapasse os EUA em bilheteria.
O Brasil é a bola da vez, e o Rio é a cereja do bolo. Hoje, o país tem números importantes para justificar um grande investimento em filmes nacionais e em eventos do porte da avant-première mundial de 'Rio'. Para este filme especificamente, o Brasil apresentou a maior bilheteria no mercado internacional até o momento, de US$ 42,5 milhões
Dando sequência a "Transformers", as próximas junkets confirmadas para a cidade são as de "Os pinguins do papai", comédia da Fox que trará ainda este mês, em data a ser confirmada, o astro Jim Carrey ao Rio; "A saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 1", continuação da bem-sucedida série de vampiros, distribuída no Brasil pela independente Paris e marcada para o segundo semestre; e a animação "O Gato de Botas", da Paramount, cujos dubladores principais, Antonio Banderas e Salma Hayek, virão em novembro.
Tudo isso gera um custo alto para os distribuidores. O mercado especula que, para a junket de "Velozes & furiosos 5", a Universal tenha gasto perto de R$ 5 milhões. Já para a de "Amanhecer", a Paris deve desembolsar até R$ 1,5 milhão para trazer ao Rio o trio de protagonistas Kristen Stewart, Robert Pattinson e Taylor Lautner.
- Já havíamos feito um lançamento da série "Crepúsculo" em 2009, em São Paulo, com "Lua nova". Depois, ainda tivemos a sorte de a autora dos livros, Stephenie Meyer, ter ambientado parte do "Amanhecer" no Rio, o que os trouxe aqui para filmar no ano passado. Isso facilitou o acordo para a realização da junket - diz Sandy Adamil, diretor da Paris. - Não dá para ter garantia de retorno do investimento na bilheteria, mas sim do marketing. E certamente ajuda a inserir o Rio no mercado cinematográfico internacional.
Olimpíadas e segurança são atrativos
Quem trabalha no mercado concorda que muito da atração que o Rio vem recebendo da indústria de cinema se deve ao bom momento da cidade. Isso inclui a melhoria nos índices de segurança, a atenção voltada à Copa do Mundo de 2014 e aos Jogos Olímpicos de 2016 e os bons indicadores econômicos.
- Eu estive, na semana passada, em Los Angeles, para o Location Trade Show, que é uma feira mundial de film comissions - conta Steve Solot, presidente da Rio Film Comission, órgão cuja função é atrair produções para o estado. - A única comissão brasileira presente lá foi a do Rio. Recebemos 80 produtores de cinema e TV interessados em rodar na cidade. O Rio está explodindo lá fora.
Mas há uma série de dificuldades para a realização de eventos aqui, sobretudo em relação aos custos - aquele real valorizado que incrementa a renda das bilheterias é o mesmo que aumenta os gastos nas junkets. Fora isso, não basta trazer atores e jornalistas para a cidade: é necessário arrumar atividades em seus tempos vagos, como passeios turísticos, jantares e jogos de futebol.
A conta é paga primeiro pela companhia brasileira e, depois, poderá ser dividida com as distribuidoras de cada país que enviou jornalistas para a junket. A prefeitura, por meio da RioFilme, dá apoio logístico à ação, mas não tem como regra dar apoio financeiro.
- Nós só investimos no "Rio" com um licenciamento especial para ocupação de espaços e um subsídio de R$ 150 mil para uma visita de 200 executivos que a Fox promoveu em 2010 - afirma Sérgio Sá Leitão, diretor-presidente da RioFilme. - É o tipo de coisa que estamos abertos a fazer em outros casos, mas é necessário que haja um duplo benefício, o econômico e o da imagem positiva. No "Velozes & furiosos 5", por exemplo, não houve um centavo da prefeitura.
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